sábado, 18 de janeiro de 2014

O Concurso para Professor da Escola de Belas Artes do Porto

Pintor António Carneiro (1872 -1930)
Em 1933, por morte do Pintor António Carneiro, a Escola de Belas Artes do Porto (EBAP) abriu concurso para regente da cadeira de Pintura, a que se candidataram, para além de António Costa, Lauro Corado, Dórdio Gomes, Mendes da Silva, Abel Moura e Tomás Pelaio.

Um juri de nomes ilustres, onde figuram Aarão Lacerda, Teixeira Lopes, Joaquim Lopes, Júlio de Brito, Acácio Lino, Manuel Marques, Manuel Monterroso, Miguel Monteiro, Álvaro Lima e Veloso Reis apreciou as candidaturas apresentadas ao concurso.

António Costa estava então preso na PIDE e é sob prisão que presta provas, escoltado por agentes da policia politica do regime.



Apresenta a concurso 2 trabalhos : "O Julgamento de Páris" e uma "Academia Masculina", retratados na imagem abaixo.


Prova oral do concurso


Julgamento de Páris
Dórdio Gomes é o primeiro classificado, e António Costa o segundo, havendo quem, ao tempo, tenha ficado com dúvidas se as poucas garantias que António Costa, na situação de preso político, apresentava para tomar conta da regência no caso de sair vencedor, pesaram ou não na decisão de um júri cujo nivel e idoneidade estavam fora de causa.
Dórdio Gomes

Noticia em  publicação não identificada  sobre o concurso



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Actividade docente

Durante uma grande parte da sua vida, António Costa desempenhou funções de docente no então designado Ensino Técnico, com uma interrupção de cerca de 20 anos, provocada por razões de ordem política.

Assim:
  • 1923 : Escola de Artes e Oficios Vitorino Damásio (Lagos)
  • 1923 a 1925 : Escola Industrial Infante D. Henrique (Porto)
  • 1925 a 1929: Escola Industrial Passos Manuel (Vila Nova de Gaia), onde desempenhou o cargo de Director, do qual foi exonerado a seu pedido.
  • 1929 a 1932: Escola Industrial Infante D. Henrique (Porto).
Em Fevereiro de 1932, e na sequência da sua prisão pela PIDE em Dezembro de 1931, foi exonerado, por despacho ministerial, do cargo de Professor Efectivo que então desempenhava na Escola Industrial Infante D. Henrique.

Em 1951, por estar abrangido pelo Decreto Lei 38267 de 31 de Julho de 1951, foi reintegrado nos quadros da Escola Industrial Infante D. Henrique.
  • 1951 a 1952: Escola Industrial Infante D. Henrique (Porto)
  • 1952 a 1955: Escola Gomes Teixeira ( Porto)
  • 1955 a 1961: Escola Industrial Infante D. Henrique (Porto)
Escola Industrial Infante D. Henrique (Porto)

Actividade política

Na sequência da sua participação na preparação da "intentona" revolucionária, prevista eclodir em 26 de Agosto de 1931 e coordenada por Camilo Cortesão, António Costa é preso pela Secção de Vigilância Política e Social da Polícia Internacional Portuguesa (posteriormente designada por PVDE e PIDE)  no Porto, em Dezembro de 1931.


Ficha de Cadastro na PIDE




























Em 22 de Junho de 1932  é "posto em liberdade … sendo-lhe fixada residência em Peniche, por ordem de Sua Exª. Ministro do Interior" .

Em Setembro de 1932 é chamado á sede da PIDE em Lisboa, para prestar declarações. Acompanhado por um guarda prisional, desloca-se para a Estação de S. Mamede (Bombarral), para apanhar o comboio para Lisboa, aproveitando a oportunidade para se evadir.

Em Dezembro de 1932 é-lhe "dada liberdade definitiva, em virtude de ter sido abrangido pelo disposto no Decreto 21.493".


Em Março de 1933 é preso de novo, por alegadamente  "estar envolvido em manejos conspiratórios".

Em Novembro de 1933 embarca para Angra do Heroísmo, a bordo do vapor Quanza, a fim de dar entrada no Forte de S. João Baptista.
Aqui é companheiro de destino de João Soares (pai de Mário Soares), Azeredo Antas, Manuel Godinho, José Praça e do escultor João da Silva. 


O período de prisão fica assinalado com alguns trabalhos com que procura preencher o seu tempo.

Assim, pinta na parede curva da sua camarata painéis alegóricos, um dedicado à Democracia e outros a Alexandre Herculano e a Mouzinho da Silveira. Aproveita também o tempo disponível para fazer o retrato de alguns amigos, também prisioneiros, tais como Manuel Godinho, José Praça e de outros prisioneiros.



Painel a Mouzinho da Silveira





Em Setembro de 1934 regressa de Angra do Heroísmo, sendo restituído à liberdade.



Placa no Forte de S. João Baptista
Obs. Numa viagem por mim efectuada em 2002 a Angra do Heroísmo, tive oportunidade de visitar o Forte de S. João Baptista, para aí tentar encontrar memórias da antiga prisão política.

As informações então recolhidas levaram-me à conclusão de que as instalações da prisão terão sido destruídas, e, com elas, os painéis antes referidos.

No inicio dos anos 40 passou a frequentar uma tertúlia que se reunia no Café A Brasileira, então centro político e intelectual da cidade, onde se reuniam as principais figuras da oposição ao regime vigente, entre as quais o Engº Manuel Godinho, o Engº José Praça, o Arqº Januário Godinho e o Engº Luis Soares, entre outros.

Durante os anos em que vivi com o meu Avô, na casa de S. Roque da Lameira, habituei-me às visitas que, de quando em vez, nos faziam os agentes da PIDE, quer para efectuar revistas quer para o levar para interrogatórios.